Marcas indeléveis (do Império...) - 12

Cabinda

(Construção dos anos sessenta durante a guerra colonial)

Não sei se devia terminar a legenda com reticências ou com um ou mais pontos de exclamação. Juraria, no entanto, que quem acompanhe a série da RTP "guerra colonial" do Joaquim Furtado, (e não tenha estado em Angola nesses anos), perante esta foto ( e outras como a de baixo) optaria pelos pontos de... admiração!

Estação do Luso

(bem próximo estava a guerrilha)

A cor e a modernidade destas obras contrariam, pelo menos um pouco, o tom a "preto e branco" da série do Joaquim Furtado. Contudo, ambas - o que está nestas fotos e o que se vê na série televisa - foram uma realidade. A mesma realidade.
Bom dia! Este Bom dia dirige-se àquele (não sei quem - mas um amigo de certeza) que irá ser o 1000º visitante deste Avulso & ao Calhas e a todos os que quase diariamente, sem ser ao calhas, o visitam na tentativa, nos últimos tempos sempre frustrada, de lerem algo de novo. Nenhuma novidade encontram e... não desistem! Agradeço, cá do fundo, essa persitência. Neste caso a persitência é sinónimo de amizade. Obrigado e um bom dia para todos.

Luminosidades e coincidências...

Já se despediam pachorrenta e silenciosamente os últimos raios de Sol, quando lhe ocorreu que a mensagem, que naquela manhã enviara, iria passar em claro a noite que se aproximava com a indolência do costume. Nesse exacto momento fez-se ouvir um prolongado sinal sonoro. Espreitou: um raiozinho de sol acabava de chegar quando os outros, fugidios, já lhe viravam as costas.

Espantoso...

Há dias, ao fim de bastante tempo fui à minha caixa de correio pessoal. Sem dar por isso tinham-se passado seis meses desde a última vez que lá fora. E fui lá porque um amigo me disse que me tinha enviado um poema para eu comentar (como se eu fosse um especialista na matéria). A caixa estava cheia de mensagens, a maior parte delas era correio promocional de diversos produtos. É o que dá comprar qualquer coisa pela net - a seguir inundam-nos de publicidade. Não encontrei o tal poema que procurava (o Henrique julga que o enviou mas não enviou nada, coisa que a mim às vezes também me acontece). Mas deparei com uma mensagem que me surpreendeu e que muito me emocionou. Quem me escrevia tinha deixado essa mesma mensagem em Janeiro no meu post "Espantoso..." de 20/Out/06. Escrevi eu nesse post que nos anos sesssenta em Angola não eram muitos os negros que frequentavam a Escola, mas os que a frequentavam faziam-no na mesma escola que a dos brancos. Todos nos sentávamos nas mesmas carteira, bebíamos água da mesma torneira e jogavámos com a mesma bola, ao contrário do que sucedia nesses mesmos anos sessenta na democratíssima América. Aí a coisa piava mais fino. Nesse post mencionava os únicos colegas negros que frequentavam o Colégio onde eu andava: o Satumbo e o Chandamissa. O Satumbo sei que continua em Angola e já tive o prazer de o "ver", já, naturalmente, com menos cabelo e mais entradas, numa foto com um outro amigo de então, o "Garoupas". Quanto ao Chandamissa, colega de carteira, infelizmente apenas sabia que morrera na guerra que se seguiu à descolonização e que opôs o MPLA e a UNITA.

A mensagem que muito me tocou dizia o seguinte:

"Quando lia o blog algo despertou-me a atenção, o nome "Chandamissa". Se estava a referir-se ao Serafim Chandamissa, este é o meu pai. Gostava imenso de trocar algumas impressões - Delman Chandamissa".

Já não me lembrava muito bem qual era o nome próprio do Chandamissa. Não parece, mas já se passaram 4o anos! Mas só podia ser ele. Senti emoção nas palavras do Chandamissa filho. Praguejei contra este mau hábito de não consultar diariamente a minha caixa de correio. Tive receio, dado o que tempo que já se passara, que o tm que o Delman me dera já não "funcionasse" e, acima de tudo, tive receio que o Delman pudesse pensar que eu não não tivesse ligado nenhuma à mensagem que me deixara. Peguei de imediato no tm e liguei-lhe. Estava ocupado. Insisti. Por fim falei com ele. Chegámos rapidamente à conclusão que o Chandamissa, meu colega, era, efectivamente, o pai dele. Serafim Lara Chandamissa. Contou-me que não chegara a conhecer o pai. O pai foi preso em 1979 pelo MPLA e nunca mais a família soube dele. A família não tem dúvidas nenhumas de que foi morto mas nunca lhe entregaram o corpo. Nunca. Naquele ano, no rescaldo do Golpe do 27 de Maio desapareceram, assim, centenas de pessoas. Diz-me o Delman que tudo o que cheirava a intelectual era ceifado. Eu sei que foi assim.
O Delman vive na margem Sul. Está no último ano de Gestão Informática na Lusófona. Ainda pensei que fosse bolseiro de Angola. Não. Trabalha e estuda. Gostei muito de saber. E gostei muito de falar com ele. Pareceu-me uma pessoa afável como, aliás, era o pai dele, embora marcado pelos acontecimentos e muito empenhado em valorizar-se. Combinámos um copo para um dia destes.
Convidei-o a estar presente no próximo Encontro dos Antigos Estudantes do Cubal. Disse-me que tinha o maior prazer em conhecer os colegas do pai. E nós teremos a maior a maior alegria em conhecer o fillho do Chandamissa. Vamos esperar pelo Encontro.

Luminosidades...

Finalmente o sol, finalmente luz, finalmente um dia claro. (Finalmente volto ao meu blogue). Segreda-me, porém, o meu pisa-papéis – como se eu não desse conta – que há um raiozinho de sol que se esquiva por detrás de tanta claridade. Porque é que há sempre um porém a tingir o azul do céu ?

Eleições em França ...

Votei Sarkosy! Sei que desaponto muitos dos meus amigos com esta revelação. Que hei-de fazer!? Votei pela clareza (coragem) das suas opções em relação à emigração e ao seu não à entrada da Turquia na UE. Tão só por isto.

Luminosidades...

Lá fora a noite cai. Escura. Definitiva. Cá dentro há um fiozinho de luz que não escurece. Recusa-se. Serenamente. Silenciosamente.

Marcas indeléveis (do Império...) - 11


Cabinda - Hospital

Não parece antes uma antiga estância de férias para trabalhadores?

25 de Abril...

Ontem enviei a um amigo dos tempos de Coimbra, com quem vivi intensamente a chamada "Crise Académica de 1969" , a seguinte mensagem:

"Senhor poeta vamos dançar / caem cometas no alto mar / atiram pedras / arrancam dentes..."

Claro! Claro que estou a ouvir o Zeca! E, inevitavelmente, as memórias que a voz inagualável do Zeca me evoca, emerge em primeiríssimo plano a tua voz a misturar-se com a dele naquelas longas e inesquecíveis noites de Coimbra vagueando entre o Aquário, a leitaria do Raúl e a Clépsidra. Vagabundeando e cantarolando, madrugada adentro, as canções do Zeca.

"Senhor poeta vamos dançar...". Tenho saudades tuas. Tenho saudades de tudo.

Viva Abril! Que para ti, eu sei, é ainda uma "jornada de luta" mas que para mim é apenas evocação, memória e festa (interiores) onde entras sempre, sempre. Tu e outros amigos.»

O amigo de que falo é o meu querido amigo Hermínio.

Luminosidades...

Como ontem,
como ontem antes de ontem,
o céu continua azul.

Continua azul, azul, azul!

Continua azul...
para lá do cinzento das nuvens
(negro, quase negro)
que cobre todo o azul, azul, do céu.

Um amigo de sempre e para sempre

Hoje, como ontem, há milhões de pessoas que fazem anos. Pessoas simples, pessoas endinheiradas, cientistas, artistas, políticos, celebridades. De todos esses milhões, hoje, só há um que conta. Só há um que consta da minha agenda que trago chegada ao peito. Faz hoje anos! Não sei precisar quantos. Sei que são um pouquinho mais que os meus. (mas isso que importa ?!).
É pai do João e da Susana. Está quase a ser avô da Sara. É irmão de um amigo que por estes dias faz um ano que partiu não se sabe bem para onde mas que todos os dias o sentimos bem perto de nós. Bem perto daquela parte de nós que sente, que em silêncio chora e que dele sente a sua falta.
Vermelho, como eu, na camisola (gloriosa) que veste. Mas verde na militância!
Ao contrário de mim, quando promete que vai escrever uma história, escreve mesmo. E escreve bem. E de uma forma vertical. Na escrita é repentista, como repentista era no futebol de salão, antigamente. Não mastigava o jogo. Um ou duas fintas e rematava pronto, certeiro e com qualquer dos pés.
E ao fim deste anos todos continua em forma. Em grande forma. Física e lírica. Basta ver como em Férias Deslizo veloz neste silêncio/Apenas o sussurro da neve, na passagem/pensamentos ausentes. Bonito, muito bonito Henrique! É, é o Henrique que faz hoje anos! Um amigo de sempre e para sempre. Parabéns, meus caro! E um grande, grande abraço!

Marcas indeléveis (do Império...) - 10

Estação do CFB no Luso



Digam lá se não parece (descontando o preto e branco da foto) um desses viadutos modernos, custeados com fundos da UE, que cruzam as nossas cidades!

O regresso das luminosidades...

Finalmente uma "escapadela"... para voltar ao Blog! Para dizer qualquer coisa. Não sei bem o quê. Que aqui também há luz, há Sol, muito sol até, e que aquele raio de luz, aquele que fazia brilhar o meu pisa-papéis e me fazia nascer um brilhozinho nos olhos, ontem, pela primeira vez, nestas bandas, ao final da tarde, inesperadamente, roçagou o meu rosto. Para dizer a verdade não foi ele que me surpreendeu (verdade, verdadinha, isso, era o que eu gostava que tivesse acontecido). Fui eu que me pus à sua frente.

Luminosidades...

E agora! Como é que vai ser? Os prédios pombalinos, as águas-furtadas, as varandas de sacada, as janelas, os vidros das janelas, os reflexos dos telhados e dos prédios pombalinos nos vidros das janelas... a luminosidade das manhãs e dos fins de tarde. Sim, acima de tudo, a luminosidade dourada das manhãs e dos fins de tarde. Uma ou outra gaivota que cruza os telhados dos prédios pombalinos... Como é que vai ser? Como é que me vou dar sem tudo isto? É... vou deixar a Baixa de Lisboa. Já hoje. A vida profissional tem destas coisas. Mas espero que esta luminosidade... (única) não me abandone. Nunca. (levo comigo pelo menos um raio de luz... e o pisa papéis...)

A nossa escola

Subscrevo inteiramente: "O bom selvagem" de Francisco José Viegas. É na disciplina (que não há) que radica a ineficiência do nosso sistema de ensino. A "menina de cinco olhos" da velha direita (ou o espectro dela) e o pensamento/cultura da actual esquerda têm uma grande responsabilidade nisto.

Luminosidades...

Aquele raio de luz solitário, intruso, que até aqui apenas fazia brilhar o pisa papéis que tenho sobre a secretária, subitamente – não sei por que carga d’ água (gosto de fingir que não sei) – saltou-me para o rosto e para a alma e acalentou-me o resto do dia.

Pequenos pedaços de poesia (II)

Paul Celan
(1920-1970)


A morte é uma flor que só abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.

Abre sempre que quer, e fora de estação.

Luminosidades...

Subitamente o pisa-papéis da minha secretária brilha. Olho para o meu lado direito e reparo que é um raio de sol que se escapa pela janela adentro. O que faz este raio de sol por aqui, em zonas de minha jurisdição? Nada. Para além de fazer brilhar o meu pisa-papéis. Nada.

Voos da Águia

Desde Sábado 24 que esta águia (em prata) poisa no lado esquerdo do meu peito. (afinal sítio onde mora desde dempre). Vinte e cinco anos de dedicação!

Voos da Águia

Dínamo 1 - 2 Benfica

Missão e dever cumpridos. Em frente!

O segundo holocausto





É o mínimo a que a minha consciência me obriga e, infelizmente, o máximo que eu posso fazer: divulgar esta inquietante análise.

Quotidiano

Hoje é dia de Cozido e de Quadratura do Círculo. Raramente perco um destes pratos.

Marcas indeléveis (do Império)... 9

Ex-Praça Marcelo Caetano - Silva Porto

Quotidiano

A vida é feita de pequenos nadas. Entrou ontem em casa uma mesinha para a sala de estar. Estou encantado. Já tenho onde estender os pés!

Marcas indeléveis (do Império)... 8

Caminho de Ferro de Benguela

A ponte e a serpente

Luminosidades...

Os objectos à minha volta são nítidos. As ruas claras. Os recortes dos prédios quase lâminas. Os vidros reflectem a luz intensa do dia. A claridade tudo submerge. Só a minha varanda se queda pela penumbra. (Há quanto tempo não falamos?)
Receita para um cocktail

Fere-se de morte
o poema antigo
que em cíclicas ondas
a alma nos avela,

Recolhe-se uma taça rasa
da quente e cálida sangria,

Dissolve-se uma mão cheia
de leve, leve, melancolia.

Agita-se (com gesto e jeito de escanção).

Dá-se-lhe um cheirinho
a maresia.
(Apenas um cheirinho,
não mais que um cheirinho
que a maresia crava-se na alma).

Um travo de wisky
de puro malte,
dois ou três cubos de gelo
(p'a esfriar toda esta agitação)

e pronto…

Leva-se à boca
em repetidos e amenos versos,
à mistura com pianíssimas notas de Chopin
(de preferência os nocturnos 1 e 3)

Referendo

O SIM não tem um único argumento invulnerável (já o Não tem um que é inatacável: o direito do feto à vida) – a não ser a histórica incapacidade do país em assegurar as condições socioculturais que o voto no NÃO pressupõe e implica. Gostava de poder votar NÃO. A inexistência de tais condições obriga-me a votar "sim". É por isso um sim minúsculo, pragmático e envergonhado. Envergonhado para evitar uma vergonha maior: o vão de escada.

Marcas indeléveis (do Império)... 7

Caminho de Ferro de Benguela

Serpenteando...



O ventre da serpente...

Luminosidades...

Abro a fresta da janela. O Sol pousa nos telhados e escorre pela quietude das paredes. Invade a cidade. Todos os raios de luz me tocam. (Menos um...).

Marcas indeléveis (do Império)... 6


Silva Porto - Ex-Praça Marcelo Caetano


A modernidade presente (no passado).

Porto - 0 Estrela do Amadora - 1

O Glorioso, por aquilo que jogou com o Boavista, mereceu inteiramente a vitória do Estrela...

Benfica - 0 Boavista - 0

E dizes (Henrique) que não há Deus... Há! E muitos. E são todos do Boavista!

Era um dos nossos guarda-redes...

Nunca ninguém o conseguiu contactar para aparecer no Encontro (dos antigos estudantes do Cubal). No nosso Encontro. Ninguém sabia o seu paradeiro. Todos os anos se fazia um esforço para o contactar. Mas, nada. Dizia-se que andava pelo Barreiro. E eis que ontem, já ao cair do pano, abruptamente, em vez dele, é anunciada a sua morte. Em Gouveia. Não quis acreditar. Em vez de sinais de vida que há muito procurávamos, é a morte dele que se apresenta. Mais valia estar quieta. Quietinha. Ninguém a chamou! Porra!


Tinha aparecido no Cubal já nos anos sessenta, vindo da Metrópole, do Puto, das berchas. (era assim que na nossa linguagem nos referíamos a Portugal). Tímido, ingénuo, mas destemido - alías, guarda-redes não podia ser de outra maneira. Quando lhe deram os kedes (hoje ténis) para calçar e jogar pela Associação Académica do Cubal, chamou-lhes – muito apropriadamente – sapatilhas. Azar dele. Ficou para sempre "o Sapatilhas". Nunca mais se livrou do nome.

Até sempre Sapatilhas. Até sempre.

Luminosidades...

(Falei hoje contigo). E de repente há um Sol que irrompe pelas frestas deste dia cinzento e pachorrento. A tonalidade da luz é única. Não há outra assim. (Como tu).

O meu Cinema Paraíso

Ontem inaugurei em casa o meu ciclo de cinema paraíso com o “Dr. Jivago”. A primeira vez que o vi tinha 16 anos. Fiquei esmagado com a beleza da fotografia. Embevecido pela história de amor. Encantado pela música de Maurice Jarre – creio ter sido a primeira vez que retive o nome do autor de música e o nome do realizador. Até aí só fixava os nomes dos artistas principais. E, claro, claro, fascinado pela Julie Christie. Um azul de olhos que jamais vira (azul assim só o da baía Azul). Poucos anos mais tarde, uma colega na faculdade em Luanda, linda, linda, havia-me de fazer lembrar muitas vezes a Julie… e nem sequer azul tinha nos olhos.

A segunda vez, anos mais tarde, já iniciado nas minhas andanças de cavaleiro marxista, recusei vê-lo. Era uma patética história de amor (pequeno-burguêsa, claro) e contra-revolucionária!

Ontem foi a terceira. A fotografia continua a esmagar-me. A história de amor é uma história de amor. Falta-lhe, pareceu-me agora, paixão, sensualidade. A música é indissociável do filme. Não podia ser outra. A Christie continua linda, linda. Fez-me lembrar a minha colega da faculdade… (revia-a há pouco tempo, continua linda!)

A leitura política que faço da película é que sofreu uma… reviravolta! E era aqui que queria chegar. Perturbou-me o filme. Perturbou-me ver como que um idealista – Pasha Strelnikoff – se transforma, em nome da revolução (sempre em nome da revolução…) num tenebroso sanguinário. Incomodou-me o filme. Incomodou-me sentir que eu, em circunstâncias idênticas, fizera, (salvaguardas as diferenças de protagonismo, claro!) o mesmo e cretino papel – o de guarda da revolução. Ainda que este se tivesse apenas quedado pelo plano ideológico. Mas a verdade é que defendera os mesmos princípios: o partido acima de tudo – família, amigos, afectos. O partido acima das pessoas. Em nome do povo. Sempre em nome do povo. Em nome das massas populares! (era assim que dizíamos). Interpelou-me o filme. Profundamente: se em 75 a revolução leninista tivesse triunfado (não esteve longe disso), até quando é que desempenharia aquele papel? Até quando? Mais. E, talvez, mais angustiante: qual era a linha que eu jamais ultrapassaria? Assustou-me perceber que quando (e enquanto) se acredita na revolução e no partido essa linha de demarcação é muito ténue. O partido toma conta do coração e apodera-se da razão. O partido passa a ser a razão de sermos. E a razão passa a ser a do partido. E é aqui, neste ponto, que se é capaz das maiores crueldades. Basta que a revolução o exija. Basta que o partido ordene.

Incomodou-me. Mas fez-me bem ver o filme. Recomendo-o aos meus amigos (e cavaleiros que foram comigo) das andanças marxistas.

Marcas indeléveis (do Império)... 4



Clube Desportivo Ferrovia - cidade do Cubal


Repare-se nas linhas arquitéctónicas. A foto é da época (1962?), mas a modernidade do edifício é actual. Actualíssima. Era aconselhável que o "ippar" de Angola iniciasse a inventariação e preservação do património respeitante ao período colonial. Estamos a falar do património de Angola. Nossas são apenas as marcas indeléveis.

Segunda-feira...

Hoje apetece-me fazer tudo. Tudo menos aquilo que tenho para fazer – que é tudo.

Marcas indeléveis (do Império)... 3


Palácio do Governador em Benguela

Amigos que vêm de longe!

O Sombreiro, visto do lado da Caotinha

Dentro de dias, muitos poucos, se tudo correr bem até lá (que o mesmo é dizer se Deus quizer), irei somar mais um aniversário. Já são muitos. São muitos se pensar que as ondas dos meus cabelos já lá vão e, pior, grande parte dos cabelos também... Mas são poucos se pensar que gosto muito de estar. Especialmente quando estou com os meus amigos – o que acontece raramente – com os meus amigos de sempre. Aqueles que são mais firmes e seguros que os imbondeiros.
Ontem, ao visitar um blog de um destes amigos (grande, grande amigo), deparei com este post. Comoveu-me saber (e sentir) que aquelas palavras foram moldadas para mim – e isto de juntar palavras e harmonizá-las, dar-lhe corpo, não é tarefa fácil. Para além desta prenda, presenteou-me com uma outra – um cd de música das nossa terra. Tendo gostado das duas, é fácil perceber qual é que me tocou mais. Obrigado Henrique.

Marcas indeléveis (do Império)... 2

Banco de Angola em Malange


"Viagens com ou sem memória" (3)



O Presidente da República mostrou-se surpreendido com os inúmeros sinais que os portugueses deixaram na Indía. Não imaginava ele que a nossa presença por aquelas terras tinha deixado marcas tão indeléveis.

O que a mim me surprende é a sua surpresa. Há uns livrinhos de História que contam tudo.

Antecipando outras viagens do Presidente da República aos novos países da lusofonia e a fim de lhe poupar novas supresas, inauguro hoje uma exposição fotográfica avulsa e ao calhas sob o tema:

Marcas indeléveis do Império (1)

Igreja da missão do Bimbe


"Viagens com ou sem memória" (2):


“Cacimbo a cacimbo, de calema em calema, os nossos velhos ergueram lugares, vilas e cidades onde, antes, só havia mato e capim! Uniram margens, outrora intransponíveis! Abriram picadas, rasgaram caminhos. Uns de ferro, outros de terra batida, mais tarde de alcatrão. Edificaram escolas. Construíram portos. Ensinaram a ler, a escrever, a fazer contas. Substituíram o cazumbir e o feiticeiro, pela sulfamida, o quinino, a penicilina, o enfermeiro e o médico. Numa esteira estendida pelo chão, no quimbo ou na sombra de uma mangueira, quantas vezes com amor, outras por precisão, fizeram mulatos, morenas de Angola, garotas de Ipanema! Que sonetos mais bonitos podiam ter feito? Vejo e oiço os dirigentes deste meu Velho País. Arrepiam-se, como eu, quando em pedras esquecidas pelo tempo e pelos homens, e corroídas pela erosão dos séculos, se decifram tenuemente as Cinco Quinas esculpidas por mãos sem nome e sem rosto. Emocionam-se, como eu, quando ouvem palavras soletradas em português por bocas famintas de gente humilde em lugares longínquos e inóspitos onde, perante tão grande lonjura, se pergunta, mas ali havia gente? Também ali chegámos? Palavras ditas com sotaque em que o artigo definido ou indefinido, admiravelmente, não concorda, quanto ao número com o substantivo que o acompanha. Palavras que têm o sabor das manga, dos coco e das goiaba. Emocionam-se e logo se lembram, como eu, de citar Pessoa: a Língua Portuguesa é a minha Pátria! Mas a nenhum deles ocorre perguntar, como eu tantas vezes me pergunto, com a ironia de quem sabe de antemão a resposta, quem é que construiu essa Pátria sem fronteiras a que chamam, agora, com acerto, Lusofonia? Quem é que lhe desenhou o corpo, tisnou a pele e lhe deu alma? Sem ter consciência disso, eu sei. Mas quem foi? Quem é que teceu esses laços que nem a erosão do tempo, as distâncias e as guerras lograram destruir e que, agora, todos dizem querer preservar e cuidar como se de frágeis flores se tratassem? Quem é que espalhou essas palavra portuguesa, como se fossem sementes, por essas terra longínquas? O vento não foi certamente..., diria um outro poeta, embora, pela grandeza da obra, mais parece ter sido mister da natureza do que dos homens! Quem foi? Quem foi? Quem foi, então!?

Eles, os dirigentes deste meu velho país, sabem tão bem como eu. Mas não ousam dizê-lo. Prisioneiros do que é politicamente correcto, não têm a coragem do poeta de Abril que gritava bem alto: “Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são/Se for um copo é um copo/ se for um cão é um cão”.
 
Vá! Não tenham medo da palavra! Foram os colono! Porra! Foram os colonos! Chiça!

Foram os nossos velhos! Os que há muito partiram, os que partiram há pouco, os que – como o meu pai – em breve partirão e os que – como nós – um dia partirão. Mais ninguém! Eles que (sem saber) escreveram tantas páginas da nossa História,  a História (feita hoje) reservar-lhes-á apenas as mais sujas (que as houve)… Tamanha injustiça!
 
Não foi uma obra desinteressada? Tem páginas negras? Gerou injustiças? Correram lágrimas e sangue? Apontem-me obra humana sem mácula, inocente, pura, perfeita!

Isto foi parte do que, há uns anos, escrevi, talvez com excessiva emoção, a propósito da morte de um antigo professor e da morte do meu pai que então se esperava para breve.
Subscrevo: "viagens com ou sem memória" de J.Pacheco Pereira
"Pode-se ir à Índia sem Vasco da Gama? Talvez possa, mas para um português, não se deve. Não digo tanto “sem Vasco da Gama”, mas “sem Goa”, sem a memória da nossa identidade que lá ficou um pouco enterrada e está a cair aos bocados. Mas mesmo que já estivesse toda no chão, enterrada por desprezos diversos, o lugar está lá, as almas estão lá num canto qualquer a assombrar-nos. A história é assim: não se pode ir à Índia com inocência absoluta, nem aliás os indianos nos responderão com inocência. A história pesa. Não é saudosismo, é respeito por nós próprios que fomos feitos por aqueles homens que por lá andaram à espadeirada, à pimenta, na pirataria, brutos, cruéis, gananciosos, vaidosos, crentes, santos, líricos, o que se queira, mas nossos. Vem nos Lusíadas, que tanto patriota cá da casa gosta de bater no peito, para esquecer quando vê um call center deslocalizado."

Cemitério de Pianos: um livro a não perder



Acabei há dias de ler o Cemitério de Pianos. Há livros que leio de um fôlego. Este não. Este saboreei-o, página a página, frase a frase. Tive dificuldades em chegar ao fim. Por duas razões: frequentemente lia e mal acabava de ler, voltava a ler de novo (não para perceber o sentido do texto como me acontece, confesso, com alguns dos nossos consagrados não é preciso dizer quais) mas para sentir de novo o prazer que a leitura daquela passagem, inúmeras passagens me dera. Lia e voltava a ler para me deter na luz que quotidianamente entrava  pelas janelas e iluminava os pontículos suspensos de poeira ou a claridade que se espelhava nos rostos dos personagens sem estes se darem conta. Outras vezes hesitava em avançar com receio de não encontrar imagens tão bonitas como aquelas que acabava de ler. Como esta:
"A minha mulher passa. Não repara na agitação inivisível e luminosa de notas de piano que deixa à sua passagem. Leve, passa com as mangas arregaçadas até aos cotovelos. Sem reparar, leva a claridade da manhã no rosto. Entra no corredor. ..."
ou esta:
"Ela tinha os cabelos apanhados num laço, era uma menina e, no seu rosto, havia qualquer milagre: pureza: que eu não sabia descrever. Os olhos grandes: o céu. Se estivesse suficientemente perto, acredito que poderia ter visto passáros a planarem dentros dos seu olhos, seria um mês da primavera dentro dos seus olhos: infinito. Ela era uma menina frágil e meu olhar pousava com cuidado na pele do seu pescoço, nos ombros sob o vestido de flores que trazia."
A história, adiantou o autor na apresentação do livro, tem dois narradores (?), com o mesmo nome: o avô e o neto de Francisco (Lázaro), carpinteiro e maratonista que morreu em plena maratona nos jogos olímpicos de 1912 em Estocolmo (untara o corpo de sebo para se proteger das câimbras e da fadiga – o que lhe foi fatal) . Desde o ínicio do livro e este é um dos lados interessantes do livro procuramos saber qual das vozes é que fala e em que tempo –  se de um de outro –  é que as coisas acontecem. Mas a dada altura é tal a dificuldade em estabelecer quem é que está a narrar que decidimos entregarmo-nos apenas ao prazer da leitura que, no meu caso, foi muito. Muito.



Aconteceu Taça (Porto 0 - Atlético 1) !!!

Mas por vontade expressa do árbitro (descaradamente) não teria acontecido... cinco minutos de descontos despropositados e um penalty inventado...

Não posso deixar de lembrar (aos amigos comuns) que o Atlético da Tapadinha era o club do coração do Aníbal Fernandes.


Subscrevo:

"A morte de Saddam Hussein" de José Pacheco Pereira in Abrupto. Muito em particular o 3.º parágrafo.













Ano de 2007

Já tinha dado os votos de Bom Ano aos meus familiares e amigos. Faltava aos visitantes deste Blog. (São mais ou menos os mesmos...)

Quand même: Um Bom Ano!