Aí o tens, meu caro!
Luminosidades...
O meu Cinema Paraíso
A segunda vez, anos mais tarde, já iniciado nas minhas andanças de cavaleiro marxista, recusei vê-lo. Era uma patética história de amor (pequeno-burguêsa, claro) e contra-revolucionária!
Ontem foi a terceira. A fotografia continua a esmagar-me. A história de amor é uma história de amor. Falta-lhe, pareceu-me agora, paixão, sensualidade. A música é indissociável do filme. Não podia ser outra. A Christie continua linda, linda. Fez-me lembrar a minha colega da faculdade… (revia-a há pouco tempo, continua linda!)
A leitura política que faço da película é que sofreu uma… reviravolta! E era aqui que queria chegar. Perturbou-me o filme. Perturbou-me ver como que um idealista – Pasha Strelnikoff – se transforma, em nome da revolução (sempre em nome da revolução…) num tenebroso sanguinário. Incomodou-me o filme. Incomodou-me sentir que eu, em circunstâncias idênticas, fizera, (salvaguardas as diferenças de protagonismo, claro!) o mesmo e cretino papel – o de guarda da revolução. Ainda que este se tivesse apenas quedado pelo plano ideológico. Mas a verdade é que defendera os mesmos princípios: o partido acima de tudo – família, amigos, afectos. O partido acima das pessoas. Em nome do povo. Sempre em nome do povo. Em nome das massas populares! (era assim que dizíamos). Interpelou-me o filme. Profundamente: se em 75 a revolução leninista tivesse triunfado (não esteve longe disso), até quando é que desempenharia aquele papel? Até quando? Mais. E, talvez, mais angustiante: qual era a linha que eu jamais ultrapassaria? Assustou-me perceber que quando (e enquanto) se acredita na revolução e no partido essa linha de demarcação é muito ténue. O partido toma conta do coração e apodera-se da razão. O partido passa a ser a razão de sermos. E a razão passa a ser a do partido. E é aqui, neste ponto, que se é capaz das maiores crueldades. Basta que a revolução o exija. Basta que o partido ordene.
Incomodou-me. Mas fez-me bem ver o filme. Recomendo-o aos meus amigos (e cavaleiros que foram comigo) das andanças marxistas.
Marcas indeléveis (do Império)... 4
Clube Desportivo Ferrovia - cidade do Cubal
Repare-se nas linhas arquitéctónicas. A foto é da época (1962?), mas a modernidade do edifício é actual. Actualíssima. Era aconselhável que o "ippar" de Angola iniciasse a inventariação e preservação do património respeitante ao período colonial. Estamos a falar do património de Angola. Nossas são apenas as marcas indeléveis.
"Viagens com ou sem memória" (3)
O Presidente da República mostrou-se surpreendido com os inúmeros sinais que os portugueses deixaram na Indía. Não imaginava ele que a nossa presença por aquelas terras tinha deixado marcas tão indeléveis.
O que a mim me surprende é a sua surpresa. Há uns livrinhos de História que contam tudo.
Antecipando outras viagens do Presidente da República aos novos países da lusofonia e a fim de lhe poupar novas supresas, inauguro hoje uma exposição fotográfica avulsa e ao calhas sob o tema:
"Viagens com ou sem memória" (2):
Eles, os dirigentes deste meu velho país, sabem tão bem como eu. Mas não ousam dizê-lo. Prisioneiros do que é politicamente correcto, não têm a coragem do poeta de Abril que gritava bem alto: “Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são/Se for um copo é um copo/ se for um cão é um cão”.
Isto foi parte do que, há uns anos, escrevi, talvez com excessiva emoção, a propósito da morte de um antigo professor e da morte do meu pai que então se esperava para breve.
Subscrevo:
"A morte de Saddam Hussein" de José Pacheco Pereira in Abrupto. Muito em particular o 3.º parágrafo.