Pequenos pedaços de poesia (II)

Paul Celan
(1920-1970)


A morte é uma flor que só abre uma vez.
Mas quando abre, nada se abre com ela.

Abre sempre que quer, e fora de estação.

Luminosidades...

Subitamente o pisa-papéis da minha secretária brilha. Olho para o meu lado direito e reparo que é um raio de sol que se escapa pela janela adentro. O que faz este raio de sol por aqui, em zonas de minha jurisdição? Nada. Para além de fazer brilhar o meu pisa-papéis. Nada.

Voos da Águia

Desde Sábado 24 que esta águia (em prata) poisa no lado esquerdo do meu peito. (afinal sítio onde mora desde dempre). Vinte e cinco anos de dedicação!

Voos da Águia

Dínamo 1 - 2 Benfica

Missão e dever cumpridos. Em frente!

O segundo holocausto





É o mínimo a que a minha consciência me obriga e, infelizmente, o máximo que eu posso fazer: divulgar esta inquietante análise.

Quotidiano

Hoje é dia de Cozido e de Quadratura do Círculo. Raramente perco um destes pratos.

Marcas indeléveis (do Império)... 9

Ex-Praça Marcelo Caetano - Silva Porto

Quotidiano

A vida é feita de pequenos nadas. Entrou ontem em casa uma mesinha para a sala de estar. Estou encantado. Já tenho onde estender os pés!

Marcas indeléveis (do Império)... 8

Caminho de Ferro de Benguela

A ponte e a serpente

Luminosidades...

Os objectos à minha volta são nítidos. As ruas claras. Os recortes dos prédios quase lâminas. Os vidros reflectem a luz intensa do dia. A claridade tudo submerge. Só a minha varanda se queda pela penumbra. (Há quanto tempo não falamos?)
Receita para um cocktail

Fere-se de morte
o poema antigo
que em cíclicas ondas
a alma nos avela,

Recolhe-se uma taça rasa
da quente e cálida sangria,

Dissolve-se uma mão cheia
de leve, leve, melancolia.

Agita-se (com gesto e jeito de escanção).

Dá-se-lhe um cheirinho
a maresia.
(Apenas um cheirinho,
não mais que um cheirinho
que a maresia crava-se na alma).

Um travo de wisky
de puro malte,
dois ou três cubos de gelo
(p'a esfriar toda esta agitação)

e pronto…

Leva-se à boca
em repetidos e amenos versos,
à mistura com pianíssimas notas de Chopin
(de preferência os nocturnos 1 e 3)

Referendo

O SIM não tem um único argumento invulnerável (já o Não tem um que é inatacável: o direito do feto à vida) – a não ser a histórica incapacidade do país em assegurar as condições socioculturais que o voto no NÃO pressupõe e implica. Gostava de poder votar NÃO. A inexistência de tais condições obriga-me a votar "sim". É por isso um sim minúsculo, pragmático e envergonhado. Envergonhado para evitar uma vergonha maior: o vão de escada.

Marcas indeléveis (do Império)... 7

Caminho de Ferro de Benguela

Serpenteando...



O ventre da serpente...

Luminosidades...

Abro a fresta da janela. O Sol pousa nos telhados e escorre pela quietude das paredes. Invade a cidade. Todos os raios de luz me tocam. (Menos um...).

Marcas indeléveis (do Império)... 6


Silva Porto - Ex-Praça Marcelo Caetano


A modernidade presente (no passado).

Porto - 0 Estrela do Amadora - 1

O Glorioso, por aquilo que jogou com o Boavista, mereceu inteiramente a vitória do Estrela...

Benfica - 0 Boavista - 0

E dizes (Henrique) que não há Deus... Há! E muitos. E são todos do Boavista!

Era um dos nossos guarda-redes...

Nunca ninguém o conseguiu contactar para aparecer no Encontro (dos antigos estudantes do Cubal). No nosso Encontro. Ninguém sabia o seu paradeiro. Todos os anos se fazia um esforço para o contactar. Mas, nada. Dizia-se que andava pelo Barreiro. E eis que ontem, já ao cair do pano, abruptamente, em vez dele, é anunciada a sua morte. Em Gouveia. Não quis acreditar. Em vez de sinais de vida que há muito procurávamos, é a morte dele que se apresenta. Mais valia estar quieta. Quietinha. Ninguém a chamou! Porra!


Tinha aparecido no Cubal já nos anos sessenta, vindo da Metrópole, do Puto, das berchas. (era assim que na nossa linguagem nos referíamos a Portugal). Tímido, ingénuo, mas destemido - alías, guarda-redes não podia ser de outra maneira. Quando lhe deram os kedes (hoje ténis) para calçar e jogar pela Associação Académica do Cubal, chamou-lhes – muito apropriadamente – sapatilhas. Azar dele. Ficou para sempre "o Sapatilhas". Nunca mais se livrou do nome.

Até sempre Sapatilhas. Até sempre.