No imaginário de muito bom português
(intelectual ou não) a vida dos colonos em África era uma vida fácil. Bastava abanar a árvore das patacas e estas, ao
primeiro abanão, caíam aos molhos no regaço dos colonos, como as mangas caíam de maduras (e aos montes) no chão. De acordo com essa "visão histórica" a preto e branco, que ainda prevalece (e prevalecerá, assim o obriga o politicamente correcto onde estamos atolados), além de fácil, era uma vida de exploração crua e nua dos colonizados. Mas a realidade não era bem essa. Em África, a vida dos colonos era dura e
arriscada (e dos colonizados também, claro). Eram difíceis as condições de vida. Para quem vivia longe das pequenas cidades, mais árdua era a luta pela vida
que, ao fim e ao cabo, é o fado a que os comuns dos mortais, para muito longe que
tentem fugir em busca de uma vida melhor (como fizeram os colonos), não logram escapar. A vida dos colonos portugueses pelo Além-Mar, não deixou de ser, como a de muitos outros por esse mundo (a dos emigrantes portugueses, por exemplo), uma verdadeira luta pela vida. Como sempre, é assim a vida, uns ganharam-na. Muitos perderam-na.
Em África, quem se dirigia à
cidade não dizia que vinha de um pequeno lugar, dizia que vinha do mato, porque a expressão vir do mato ou ser do mato traduzia melhor a lonjura e o isolamento de onde se vinha. E os que se afeiçoavam a este modo de vida, e só muito raramente
desciam à localidade mais próxima, eram os chamados bichos-do-mato.
Esta ponte, como tantas outras, é bem o retrato do grande isolamento e dos riscos em que se vivia no mato. Eram pontes como esta, de
troncos, que separavam (pela sua eloquente fragilidade) e uniam (como único e obrigatório ponto de passagem)
a vida no mato e a vida nas pequenas
povoações. Lembro-me bem desta. Era arrepiante atravessá-la (hoje é ainda assustador
olhá-la). Tudo rangia: as molas da Bedford (que "pegava" à manivela), os pilares da ponte, a carga de sisal, a
carroçaria. Tudo abanava. O ajudante, em cima da carga, segurava-se ao
barbante que amarrava o fardo, como um boieiro ao cavalo num rodeio. O
camionista tinha que saber apontar bem a camioneta às
tábuas da ponte que serviam de trilho.
Como se pode constatar pela foto. naquele dia não chovia.
Imaginem, agora, atravessá-la debaixo de uma daquelas "torrenciais chuvadas” africanas! Era uma aventura. Era um risco de vida.
Não era fácil a vida dos colonos.
E a dos colonizados também. E foram eles os colonos (e, claro, claro, os colonizados também) que, deste modo, construíram a hoje tão cantada lusofonia com que os bem pensantes enchem a boca esquecendo-se que foram os colonos, tão detractados pelas suas próprias bocas, que ao longo de séculos criaram os laços que unem hoje os povos da lusofonia.