A Lenda Maior - Eusébio Eusébio Eusébio

 
Partiu a figura maior do Sport Lisboa e Benfica. Fica-nos a lenda. Dou-me conta que esta lenda faz parte das mais indeléveis memórias da minha infância e adolescência. Nos meus livros da escola, onde havia margens ou páginas em branco, escrevia repetidamente: Goooooooooooooolo do Eusébio! Gooooooooooooooolo do Eusébio! Não me cansava. Aqueles golos supersónicos (estávamos, então, na era dos foguetões…) chegavam a África, direitinhos à minha alma benfiquista, pelas vozes magistralmente radiofónicas do Artur Agostinho e do Amadeu José de Freitas. Eram os relatos. Épicos relatos. Nas tardes soalheiras dos Domingos o meu relvado era o Parque da Vila ou o Parque do Ferrovia (verdadeiros olimpos da minha juventude) e o rádio transístor (o mais recente “gadget” da época) o inseparável companheiro sempre bem chegado ao ouvido. Chegavam golos de todos os sítios: da Luz, da Tapadinha, de Alvalade, do Mário Duarte, do Estádio do Mar, do Vidal Pinheiro, das Antas, do Lavradio… Nos dias que se seguiam, radiante (com despreocupação própria de menino), repetia incessantemente de viva voz a caminho da Escola os golos do Eusébio. Chegado à escola, mal lograva esconder-me do olhar atento e severo da professora Mariana ou da D. Cecília inundava os livros e cadernos com os golos do Rei. Era o meu herói. Atirava ao golo com mais pontaria e destreza com que John Wayne, de pistola na mão, acertava numa lata atirada ao ar ou, naquela derradeira fracção de segundo, atingia mortalmente um índio felino, antes de este cravar um punhal nas costas do desprevenido e “inocente” cara-pálida! Era certeiro. Demolidor. Tão certeiro que muitos dos seus golos, acreditem, saíam-me da garganta ainda antes de ele os “disparar”. Era temível. E temido pelos adversários. Difícil, era “placá-lo” (acredito que só um central intransponível como o meu querido amigo Zé Lemos o conseguiria fazer). Só a morte o não temeu. Mas a sua lenda venceu já, inapelavelmente, a lei implacável da morte que agora o levou, goleando-a para a eternidade.