Quarto Minguante

A vida é feita de ciclos. Hoje termino mais um. É o meu último dia de trabalho. Reformo-me hoje.
A sensação é estranha. Muitas vezes – particularmente naqueles dias em que somos inundados por mails, objectivos e mais objectivos, urgências em cima de urgências, às vezes entremeadas por orientações contraditórias – ansiamos por este dia. Chegado o dia... parece que aquele frenesim já nos faz falta. É estranho.
Mas o que mais angustia é pensar que o ciclo que agora se inicia será o ciclo derradeiro ... o Quarto Minguante... a seguir já não virá uma nova Lua Nova.

As Segundas-Feiras

As Segundas Feiras são por regra penosas. Aprendi, no entanto, com a saudosa D. Cecília, a poropósito da gramática francesa, que há sempre excepções que se escapam à regra. É o caso desta Segunda em que o Benfica, neste último Sábado, aviou, sem apelo nem agravo, o rival dos bons velhos tempos com dois secos... Não há melhor maneira de iniciar um semana de trabalho! É um gozo.
Ainda assim não se compara ao gozo daquelas Segundas-Feiras em que o Orlando Varandas e Zé Lemos fustigavam, com um humor corrosivo e implacável, os irmãos Resendes, (que eu me lembre) únicos e indefectíveis Sportinguistas do Colégio. Era um gozo...!
Bons velhos tempos a que o Benfica parece querer regressar!
Não há mal que sempre dure nem bem que não acabe. Acabaram-se as minhas férias...

A crise

Vale a pena ler quem reflecte sobre as coisas. Exige algum tempo disponível, dá algum trabalho, mas vale a pena.

Liberdade


A Ingrid Betancourt foi libertada. Uma dupla satisfação: A libertação, ela própria, e o facto de não terem sido as mãos (sujas) de Hugo Chavez a libertá-la. Desapontamento para os recém-amigos Hugo e Mário Soares...

Barack Obama, Mariza e os ventos...

Ainda não percebi porque é que Obama é apontado como o primeiro candidato negro na história dos EUA. Não percebo. Estou farto de reflectir nesta questão e continuo a não entender. Se considerarmos que é de origem negra, efectivamente é o primeiro. A questão é, exactamente, esta. Por que é que consideram Barack Obama negro? Por ser não branco?! Todos os que não são brancos, são, então, negros?! – do meu ponto de vista, não descortino conceito mais racista do que este – Por ser filho de pai negro!? Bom, se o fundamento para o considerar como primeiro candidato negro na história dos EUA é este indesmentível dado genético – ser filho de um negro – então, eu, usando o mesmo critério, fundamento-me num outro factor genético igualmente indesmentível – ser filho de uma branca – para considerá-lo como mais um candidato branco!

Barack Obama, esta é que é a verdade, tem tanto de negro como de branco. Ou será que, agora , um factor genético (desta vez, o negro) voltou a valer mais do que o outro? Há factores genéticos de primeira e outros de segunda!? Reformulo a pergunta dando-lhe maior exactidão histórica: ainda há (dantes havia) factores genéticos de primeira e outros de segunda? O do lado do pai por ser negro é um factor de primeira e o lado da mãe por ser branca é um factor de segunda? Ingenuidade a minha... Eu julgava que o século XXI tinha acabado de vez com esta classificação. Afinal não. Virou-a apenas ao contrário. Deu-lhe uma volta de cento e oitenta graus: o que era antigamente considerado um factor de primeira – a origem branca (contra o qual Luther King e muitos outros lutaram e sacrificaram a vida), passou, agora, a ser considerado (sem que ninguém questione) um factor de segunda. O que era considerado de segunda passou a ser de primeira. São os ventos…

Argumentar-se-á que se exalta o factor genético negro por o candidato viver numa sociedade maioritariamente branca. Não é consistente este argumento. Proponho então este exercício simples: Imagine-se o mesmo Barack Obama, resultado do cruzamento dos mesmíssimos factores genéticos (branco e negro), mas como candidato, por exemolo, à presidência da República do Quénia – sociedade maioritariamente negra. Alguém exaltaria, chamando a atenção para o ineditismo histórico, o factor genético branco (que também o tem) para o apontar como o primeiro candidato branco à presidência de uma república maioritariamente negra? Ele, candidato, aceitaria, em busca de votos para sua eleição, que fosse invocada a sua origem branca? Estou seguro que a esconderia!

Há semanas, já em campanha, o senador foi ao Quénia visitar a terra natal do pai. Encontrou-se com uma sua avó. Foi um gesto bonito e comovente. Foi um regresso muito aplaudido às suas origens negras. Alguém imagina o mesmo Barack Obama candidato à presidência da República do Quénia, a fazer uma viagem até Wichita (Kansas), terra natal de sua mãe, e visitar, no momento particularmente importante da sua vida, os seus antepassados brancos? Esse regresso às suas origens brancas seria igualmente aplaudido? A imprensa consideraria esse gesto igualmente bonito e comovente? Tenho largas dúvidas. Mas se o fizesse daria, não tenho dúvidas, uma forte machadada no preconceito racial

A verdade é outra. Ter "origem negra" está na moda. Hoje quem tem um ascendência negra ainda que remota não se esquece de a invocar. A Simone de Oliveira já (se) lembrou que tinha uma bisavó negra. A Mariza não se cansa, agora, de invocar esse lado africano. Chegamos a um ponto no mínimo curioso: se alguém, negro ou com origens negras (ainda que remotas), disser que tem orgulho nas suas origens,  soa-nos bem. Vêmo-lo como alguém que não renega as suas origens. E se esse alguém for artista, a imprensa e a crítica, com afã desmedido,  começa célere a “descobrir” subtis influências – que até aí não tinham sido detectadas – dessas origens na arte da pessoa em questão. Porém, se alguém assumisse (o imperfeito de conjuntivo não é inocente…) ter orgulho nas suas origens brancas, soar-nos-ia (a mim também..., a sério, tal é a força do novo preconceito!) a uma insuportável afirmação de pendor racista. E se esse alguém fosse uma figura pública, para além de cair o Carmo e a Trindade, os blokistas e outros afins, como cães a um osso, jamais o largariam. São os ventos…

Dito isto, direi que se fosse eleitor democrata nas primárias votaria na Hilary… Já estou a ouvir a alguns comentários surdos do género “cá está… gato escondido com rabo de fora... no fundo este tipo é um racista!”. A precipitação nunca foi boa conselheira, meus caros. Se fosse eleitor americano entre o Barack Obama e o Cain votaria no... Barack Obama!

Ciranda o sol

Ciranda o sol
De nascente a poente
De poente a nascente
Arco perfeito de um magoado violino
Ciranda lenta e em descrente procissão
Como se fora um solitário peregrino

Não procura a lua
(o poeta é um fingidor...)
Procura a nua
Verdade das palavras por dizer

(Ó mar! Ó mar! Ó longínquo luar!)

Ciranda o sol
De nascente a poente
De poente a nascente
Arco perfeito de um magoado violino

Não procura a lua
Procura a rua
Onde ela, luar desfeito, aos Domingos vai rezar

Nem sinal da cruz...
Nem sinal de luz...


Senhora da Guia 4/5/08

Luminosidades

Reparo, agora, que o Sol já não bate nas vidraças da minha janela. Nem um raiozinho. Dizem-me que é assim nesta altura do ano. Que a astronomia explica isso. Quero acreditar na ciência...

A vida

"Ai amor, amores, do meu coração"...

Verso de Zeca Afonso

O jogo: Sporting 5 - Benfica 3

Ai Benfica Benfica. Meu Benfica.

Eram claros os dias

Os dias eram claros. Claros. Parecia-me que nunca tinham tido uma claridade assim. Abria uma janela e a luz inundava de luz todos objectos. Fechava-a e a luz teimava, teimava, e entrava pelas frestas mais estreitas. Tudo era luz. Luz. E quando anoitecia, o sol não desaparecia do céu. Ficava ao lado da lua. Continuava a iluminar a noite. Eram bonitos aqueles dias. Eram bonitas aquelas noites. O sol ao lado da lua. A lua ao lado do sol. O sol namorava a lua. A lua não sabia. Não sabia que o sol a namorava. Fingia que não sabia. A lua sorria. Sorria. O sol sorria. A lua falava, falava, o sol ouvia. Falavam muito. E quando acabava a noite e começava o dia, a lua continuava ao lado sol. Um dia o sol, inesperadamente, encheu-se de coragem e disse à lua que gostava da dela (quem é que não gosta da lua?). O sol não viu o rosto da lua a sorrir quando naquele dia e naquele momento lhe disse que gostava dela, mas tem uma certeza: a lua sorriu. A lua sorriu de certeza. A lua sabia há muito que sol gostava dela. E assim continuaram os dias: o sol a namorar a lua. A lua a fingir que não sabia. O sol a tocar a lua com os olhos. Os olhos do sol a tocarem a lua. Os olhos do sol a tocarem os cabelos da lua. A lua a fingir que não sentia. Assim continuaram os dias. Claros. Claros. Um dia na brincadeira, já a tarde entardecia, a lua perguntou ao sol se ele, sol, era capaz de a pedir em casamento. O sol riu-se. A lua riu-se. Riram-se os dois. O sol respondeu à lua: em casamento não. Os dois riram-se. Em casamento não, repetiu o sol. Riram-se os dois. Lia-se na cara do sol que o sol queria dizer algo mais. Encheu-se outra vez de coragem (o sol nunca fora muito corajoso com a lua) e atirou-lhe: em csamento não, mas em namoro sim. Riram-se os dois. Os dois riram-se. A lua quis saber por que é que o sol não seria capaz de a pedir em casamento e já era capaz de lhe pedir namoro. Mas o dia, que começara a nascer do outro lado da terra, puxava o sol para debaixo da linha do horizonte. Puxava. Puxava. O sol já não tinha tempo para se explicar. Apressadamente, a correr, despediu-se da lua: «Beijos. Até amanhã». Disse a correr. Mal imaginava o sol o que ia acontecer.
Continua (um dias destes ou um dia)
Não sei bem porquê (estou a mentir, sei bem os motivos...), nestes últimos dias, tenho-me lembrado de uma comovente história de amor contada pela pena do escritor cuja escrita actualmente mais me fascina.  A paixão começou assim:



"Esta era uma das coisas que fazia desde pequeno, que tinha descoberto por acaso e que imaginava ser eu a única pessoa a fazer no mundo. Fechava os olhos e via. Via o que se vê com os olhos fechados. Via o negro dentro de mim e via os pontos de luz que o quebram, as vagas de luz, as figuras abstractas de luz, os vultos de luz, as sombras de luz dentro da luz do negro dentro de mim. Isto é o que se vê quando fechamos os olhos e continuamos a ver: a cor negra e os pequenos seres de luz que a habitam. E não se conseguem olhar fixamente nem para o negro, nem para a luz. Os pontos ou as linhas ou as figuras de luz fogem da atenção. O negro é tão absoluto, tão profundo e tão infinito que o olhar avança por ele sem encontrar um lugar onde possa deter-se. Mas, naquela noite, comecei a distinguir algo dentro desse negro. Lentamente, devagar, um a um, os pequenos pontos luminosos deslizaram no negro e, pela primeira vez, vi que tinham uma direcção. Lentamente aproximaram-se um dos outros numa harmonia que existia ainda sem lógica. Depois, lentamente, tudo muito lentamente os pontos de luz formaram cordões de luz sobre o negro que eram linhas de luz sobre o negro. Depois, começou a surgir cada contorno de um rosto e de um corpo. Muito lentamene, muito devagar, um a um, começaram a surgir os traços do rosto mais lindo que alguma vez tinha visto e do corpo mais lindo que alguma vez tinha visto. Era um corpo de luz sobre o negro. Era uma mulher. Olhei-a até ser completa. Olhei-a até ter a certeza de que nunca iria ver uma mulher mais bonita na vida. Deslumbrante. E, mesmo depois dessa certeza, continuei a olhá-la. Ela olhava-me também. Tímida, sem saber talvez se podia sorrir. E a pele que não podia tocar era a pele de uma noiva pura que apetece beijar e não se pode, a pele impossível de uma noiva a caminhar para o altar com flores nos cabelos. As mãos eram toada a ternura e toda a elegância do mundo se houvesse mundo suficiente para tanta ternura e tanta elegância. Tinha um vestido leve, que era um pano branco a moldar-lhe o corpo. Tinha uns lábios finos. Tinha uns cabelos longos de mulher. Quando abri os olhos e me levantei da cama, tinha aquele milagre dentro de mim. Descalço, despenteado, em pijama, atravessei a casa. Sentei-me à escrivaninha. Com a mão a tremer, seguro na esferográfica. E, assim que pousei a ponta da esferográfica sobre a folha do papel, a mão parou de tremer. Comecei a escrever as primeira palavras daquele que, imaginava com uma certeza infinita, iria ser o meu melhor livro. Tinha vinte e cinco anos, seis meses e dezanove dias.

Escrevi até ao princípio da manha aparecer na janela. (.......................). O sol a chegar à escrivaninha e a ser dia nas folhas brancas. Escrevi duas páginas. Descrevi-lhe o rosto, os olhos, os lábios, a pele, os cabelos. Descrevi-lhe o corpo, os seios sob o vestido, o ventre sob o vestido, as pernas. Descrevi-lhe o silêncio. E, quando, me parecia que as palavras eram poucas para tanta e tanta beleza, fechava os olhos e parava-me a olhá-la. Ao seu esplendor seguia-se a vontade de escrever e, de cada vez que repetia o exercício, conseguia escrever duas palavras ou, numa máximo uma frase. Quando a manhã apareceu na janela, levantei-me e voltei para a cama, adormeci a olhá-la. Adormeci com ela dentro de mim.
"


O livro que o personagem julagava que iria ser o seu melhor livro acabou por não passar de folhas (que o acompanharam durante toda a sua vida) porque era tão sublime a paixão e tão sublime o cíume que o personagem não conseguia, sequer, suportar a ideia que alguém mais o  pudesse ler. Nem, tão pouco, o editor... Porque quem o lesse, tal era a mestria da escrita, era como se pudesse tocar e usufruir do corpo objecto daquela paixão! E essa ideia era-lhe insurportável.

Uma Casa na Escuridão
José Luis Peixoto
Ed. Temas e Debates
Tu (beau soir)

Bela... e serena como a brisa calma
Que amena atravessa a cidade
Rio... rio leito de claridade
Que meigo corre entre as pedras de minha alma.

Vento que sopra, brando, a vela da minha barca

Rumor... rumor de madrugada
Cântico que os pássaros rumorejam
Murmúrio antigo de uma ária inacabada



Lisboa 21/3/08

Luminosidades


Palvras reescritas (em jeito de poema)


E isso que importa?
continuas bonita e luminosa
como aquele raiozinho de sol
que todos os dias bate na vidraça da minha janela
Bonita e luminosa
como naqueles dias distantes de convívio
(tão distantes e tão indelevelmente presentes)
E isso é que importa!

Escuta…
Vou segredar-te uma coisa.
Com serenidade.
Com a mesma serenidade com que aquele raiozinho de sol
ao cair da tarde abandona a vidraça da minha janela.
Uma coisa que não é coisa.

Que não sendo coisa
é mais, muito mais, que coisa
É coisa de alma

(etéreo aroma)
que há muito sinto

e que juro, juro, não minto
Gosto de ti.

Minha roma.

(e tu sabias)


Lisboa 27/2/08 e 19/3/08



Saudades

Já tenho saudades deste meu cantinho. Vou regressar. Em breve.

Viagens e memórias...

Se te lembrares manda-me, via espaço, o azul da Baía Azul e traz-me num bolso uma casuarina da Praia Morena. Do Cubal não me mandes nada. Não me tragas nada. Tenho tudo, tudo, inscrito na alma. Indelevelmente.

O Henrique foi mais uma vez fazer a viagem que eu sonho fazer um dia. Foi este o recado que lhe deixei.

A Noite de Reveillon

Dançaste lindamente. (afinal não havia motivo nenhum para receares...). Não parecia nada que tinham passado já tantos anos. Não trocámos um passo. Não te dei nenhuma pisadela. Dançaste lindamente. Com tanta elegância, com tanta leveza que mal te sentia nos braços (com pena minha...).

2008

"Quando o ritmo estupidamente frenético do dia a dia abranda e (já mais tranquilo) me rencontro comigo mesmo, uma coisa acontece sempre: lembro-me dos meus verdadeiros amigos . É o caso de hoje. Um Bom Ano."

Foi esta a mensagem que enviei aos meus amigos no últino dia do ano passado. Aqui fica registada.