Das fotos da minha
infância, esta tem a minha clara predilecção. Vivíamos no mato. No Quendo. Um
aglomerado populacional composto por... duas casas! A nossa e a dos Mendes. Ao
todo, éramos nove almas que ali vivíamos. Felizes. Longe da “civilização” mais próxima que era o Cubal. Na nossa camioneta, que "pegava" ainda à manivela, demorávamos, no tempo seco do cacimbo, mais de meio dia de viagem e um ou dois no tempo das chuvas, para chegarmos à tal "civilização". Os nossos pais lutavam pela vida, ali, naquele lugarejo, e nós, pequenotes, saboreávamos a doçura da
meninice, das mangas e das goiabas. Esfalfávamo-nos em loucas corridas de arcos
de bicicleta e em felinas subidas aos galhos das árvores em busca dos bem escondidos ninhos dos passarinhos ou em mergulhos
arriscados no rio.
O rio era o Catumbela, que, muitos quilómetros mais adiante, iria desaguar no Atlântico, junto à cidade do Lobito. No tempo das
cheias as suas águas turbulentas e barrentas passavam quase à beira das nossas casas. E era ali, naquela margem, quando o rio ia mais calmo, que as duas famílias se juntavam em refrescantes e agradáveis piqueniques.
A fotografia terá perto de 60
anos e tem – o que é raro em fotos – dois focos:
os que olham para a câmara (o meu pai, sentado, o Sr. Corona, o Sr. Mendes,
a D. Joselinda, a minha prima Maria e o homem mais alto de quem não me lembro o
nome) e os que centram a atenção na minha tentativa de arranjar um
lugarzinho na fotografia e para a posteridade: a minha mãe, a minha irmã (de laçarote) e a Matilde
que me ajuda a equilibrar e foi quem me ensinou as primeiras letras (a minha 1ª
classe foi doméstica). E há um, de boné, que, embora esteja no centro geométrico da
foto, passa ao lado de toda esta acção. Estava longe dali, talvez na serra para
onde olhava. Estava, como hoje se diria, “na dele”, o Zeca (irmão mais novo da Matilde e da Isaura) – o meu companheiro e amigo das corridas com arcos de bicicleta.
Bons velhos tempos!
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