“Non, je ne regrette rien”. A mais
popular das canções de Edit Piaff. Cantava-a com uma força inigualável, vinda
das entranhas. Quem a ouvia ao vivo ou em gira-discos, ou quem hoje a ouve em
vinil (perdão, em CD – mas a verdade é que tenho uma certa aversão em usar siglas e, além do mais, o termo vinil é, hoje, mais "literário" do que o uso daquela
sigla…) com toda aquela força dramática, repetindo “não, não lamento nada”, facilmente
será levado a crer que Piaff, esse enorme vulto da canção francesa, na
realidade, não lastimava nada do que fora a sua vida: Ni le bien, qu'on m'a
fait/Ni le mal, tout ça m'est bien égal! Nem o bom que desfrutou, nem o mau por
que passou. Terá sido mesmo assim? Não terá Edit Piaff lamentado nada, mesmo
nada, do que fez na vida? Não estou certo disso. Quem cantava com aquela
amargura, quase raiva, decerto muito penou e algumas penas gostaria de ter
evitado. Hoje, é comum ouvir-se, desde políticos ou personalidades relevantes
ao mais comum dos mortais, que não lamentam nenhuma das suas opções de vida ou
nenhum dos erros que cometeram. Que se voltassem atrás, repetiriam tudo o que
fizeram. Soa bem. Nem sentimentos de culpa, nem arrependimentos, nem, tão
pouco, interrogações. Estão todos na onda. Como os invejo.
“Erros meus, má fortuna...”
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