Paris

Não percebo, sinceramente não percebo, que diante de um acto terrorismo desta envergadura, mesmo antes de se dar corpo à indignação, senão mesmo à revolta, que este acto ignóbil exige, a primeira preocupação de muita gente seja a de manifestar receio pela eventual suspensão do acordo de Schengen, suspensão que aliás o próprio acordo prevê em situações idênticas a esta, e que seria sempre um mal menor face ao mal maior que é o terrorismo islamita, e pelo receio de se gerarem certas pulsões islamofóbicas. Receios, aliás, que se têm mostrado injustificados, como  se  viu pela "reacção" ao ataque terrorista ao Hebdo, mas, receios e medos, com que os terroristas jogam e exploram com mestria e vão, assim, avançando, avançando, avançando.

É preciso assumir definitivamente que estamos numa guerra -- que nos foi abertamente declarada -- contra a civilização das luzes e da liberdade que é a nossa, a Ocidental (que também teve as suas trevas, é bom lembrar e reconhecer). Mas é preciso assumi-la (a guerra e civilização) sem medos e sem vergonha (Glucksmann). E uma guerra não se ganha apenas com sistemas e preocupações de índole securitária, a dada altura é preciso passar à ofensiva. É este o momento. Não se pode esperar paulatinamente pelo próximo atentado. Mais, nesta guerra tem que se exigir ao Islão moderado, se o é, que mostre de que lado é que está. É muito estranho que face aos sucessivos e monstruosos atentados o Islão moderado continue em silêncio. É estranho, muito estranho, que face a tudo isto não venham em massa para a rua gritar bem alto e de uma forma autêntica, que estes actos terroristas  atentam contra a humanidade e contra o seu Islão. Mas quando alguém ofende o profeta, por palavras ou caricaturas, já sabem vir para rua em massa, queimar bandeiras e mostrar a sua raiva e o seu ódio infinito. É estranho. Muito estranho.

Estou revoltado. Muito revoltado. Com tudo isto e com a passividade de um certa intelectualidade europeia, quer de esquerda, quer de direita, que, perante os ataques criminosos à sua (e à nossa) liberdade por parte do terrorismo islâmico se agacham refugiando-se no silêncio ou, quando falam é apenas para se manifestarem receosos de um eventual islamofobismo. Mas são os mesmos que ao mais pequeno gesto ou tique da Igreja Católica menos consentâneo com a LIBERDADE, que logo colocam em maiúsculas, saltam como heróicos e fogosos combatentes da liberdade supostamente em causa. Estou revoltado. Muito. Mas sereno.

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