Espantoso...


É espantoso. Condoleeza Rize, é hoje a Secretária de Estado da nação mais poderosa do planeta! Espantoso: Há quarenta anos apenas, então menina, era lhe vedado beber da mesma torneira em que bebiam os meninos brancos, não podia apanhar o mesmo autocarro ou frequentar a mesma escola. Por uma simples razão. Ser negra. Hoje lidera a política Externa e de Segurança dessa mesma nação que durante os melhores anos da sua juventude a segregava e humilhava.
É espantoso o passo largo, firme e decidido que os EUA deram em tão pouco tempo – menos de uma geração – no reconhecimento do direito a uma cidadania igual e plena a todos os seus cidadãos. Em nenhum outro país do mundo se assistiu (ou se assiste) a um tão rápido processo de integração efectiva dos cidadãos de outras cores ou credos. Percorro as caras dos ministros dos governos Europeus, em particular das ex-potências coloniais que por força da história acolhem desde há muito comunidades de diferentes raças, e não vejo nenhum negro, indiano ou asiático. E altos funcionários do Estado, há-os!? Alimento algumas dúvidas. E apresentadores de Televisão!? Os dedos de uma mão bastariam para os contar (veja-se, em contraponto a CNN). No entanto esta Europa enche todos os dias a boca com seu multiculturalismo e com o seu modelo de integração querendo muitas vezes, com altivez e arrogância, cotejar, neste campo, com os EUA. Espantoso.

Não sei que idade terá a Condoleeza Rice. Será mais nova do que eu. Pouco mais. Mas ao vê-la, há dias, numa entrevista de carácter pessoal, recordar sem qualquer azedume, sem ponta de rancor (tão frequentes e inusitados, embora até compreensíveis), a segregação racial de que fora vítima durante os anos sessenta nessa grande democracia, quer queiramos ou não, que efectivamente são os EUA desde a sua fundação, não pude, dizia, deixar de rememorar, inevitavelmente, os meus tempos de Escola em Angola, nesses mesmos anos sessenta – os derradeiros do vasto período colonial (colonialista, como sublinharia eu próprio nos meus anos de militante leninista) – em pleno regime Salazarista:

Os meus colegas do Colégio eram na sua maioria brancos. Apenas havia dois negros (pretos, como aludíamos nós), e alguns mulatos. Três dos mestiços, o Alberto, o João e o Manecas eram, e são felizmente, meus primos direitos. Éramos, e felizmente somos, como irmãos. Pretos, eram, na realidade só dois. O Satumbo e o Chandamisssa.

Eram poucos (noutros lugares seriam bem mais), muito poucos, mas frequentávamos o mesmo Colégio (privado), pagávamos as mesmas propinas, corríamos pelos mesmos corredores, frequentávamos as mesmas salas de aulas, sentávamo-nos nas mesmas carteiras, jogávamos com a mesma bola e... bebíamos da mesma torneira, nesses mesmos anos sessenta!




Nós – eu, os meus primos, o Santumbo e o Chandamissa - em regime colonial e em ditadura, e a Condoleeza Rice (uma grande senhora, quer gostem ou não) e as suas quatro amigas (brutalmente assassinadas numa Igreja Baptista por aqueles que defendiam a discriminação racial com injustificada ferocidade ), num país livre e desde a sua origem uma grande democracia... Espantoso!

2 comentários:

Anónimo disse...

É como eu sempre digo.
Quando alguém se afirma de não racista, já o está a ser.
Nós, jamais discutimos isso. Meninos na altura, o problema de pele nem sequer existia.
Hoje, continuamos assim. Por nós haveria uma sociedade melhor.
Um abraço
HF

Anónimo disse...

Quando lia o blogger algo despertou-me a atenção, o nome "chandamissa".Se estava a referir-se ao Serafim Chandamissa, este é o meu pai. Gostava imenso de trocar algumas impressões. Eis os meus contactos:temvl 969762535
, mail:delman_c@hotmail.com.
Delman Chandamissa